O martírio de Erika

O cinema de Haneke se constrói invariavelmente sobre a exploração de dois temas: a violência em suas diferentes formas (física, verbal, simbólica, psicológica, cultural) e a oposição e o interno e o externo entendido como espaços ou lugares, nos quais essa violência toma forma. Em A Professora de Piano, a violência aparece na relação destrutiva da protagonista Erika (na monumental atuação de Isabelle Huppert) com sua mãe (uma figura castradora contruída no molde freudiano clássico), dela consigo mesma, dela com seus alunos e, posteriormente, dela com o jovem Walter Klemmer. O estudo de personagem que Haneke propõe com seu filme é a dissecação implacável de sua protagonista - e aí temos também um tipo de violência que, na exploração que ele faz do voyerismo do espectador que assiste tudo mais ou menos passivamente, é amplificada. Erika é uma pessoa fria, dura, ríspida e aparentemente incapaz de demonstrar sentimentos como carinho, amor, afeto. O modo como lida com seus alunos, p...