Pretensões cósmicas


Interestelar tem sim suas qualidades. A cena em que o astronauta Cooper encontra-se dentro da projeção da 5ª dimensão, por exemplo, atrás da estante do quarto da filha, pode parecer absurda e inacreditável para leigos, mas para aqueles que entendem de Álgebra Linear sabem que a projeção de um "hipercubo" no espaço 3D seria muito próxima do retratado no filme, além do modo como o tempo se processa perto de grandes concentrações de massa, com a gravidade interferindo na sucessão cronológica, seja no passado ou no futuro. Para comprovar isso, basta verificar as equações da Relatividade Geral.
Esses méritos, no entanto, não se devem à qualidade do trabalho de Nolan enquanto cineasta, mas sim à contribuição da equipe de cientistas contratada para dar um suporte "teórico" e "acadêmico" ao filme, ajudando diretor e roteiristas a terem o máximo de fidelidade com o que ciência sabe acerca desses fenômenos. Os efeitos visuais que criaram o buraco-negro, são exemplo: ele foi renderizado (como se diz em tecnologia de informação) nos computadores da equipe de efeitos visuais a partir de calculos matemáticos fornecidos por especialistas em Física Quântica.



Porém, mesmo assim, pra mim, é o filme mais superestimado e pretensioso desse milênio. Apesar de andar com segurança por temas científicos complexos (são as qualidades mais sólidas do filme, seguidas dos efeitos e das atuações), mas derrapa quando o diretor resolve incorrer no tipo de pieguice exposto em frases como essa: "O amor é a única coisa que somos capazes de perceber que transcende dimensões de tempo e espaço. Talvez devêssemos confiar nisso, mesmo se ainda não entendemos".

Nesse ponto, onde roteiro e direção se sobressaem que os defeitos do filme se tornam tangíveis: e ao meu ver, eles são mais sólidos que suas qualidades. Além do mais, me incomoda sobremaneira essa mania (quase infantil) do diretor Christopher Nolan de explicar tudo no final. Aliás, nesse filmes, essa mania se faz sentir durante todo o filme.

Como, por exemplo, na cena em que o astronauta interpretado por Matthew McConaughey está pela primeira vez em sua vida na frente de um buraco negro e - à despeito de toda a admiração, estupefatez e perplexidade que acometeria qualquer ser humano - ele se põe a explicar de modo quase frio e calculista aquele fenômeno.

É como se Nolan se considerasse o grande e sábio cineasta, detentor das verdades, e como seu o expectador fosse incapaz de tirar suas próprias conclusões. Isso esvazia demasiadamente seus filmes, pois esgota suas possibilidades e fecha questões em vez de abri-las. Por isso, ao meu ver, Nolan nunca chegará aos pés de Kubrick ou Tarkovski e seu Interestellar está anos-luz atrás de 2001 ou de Solaris.

INTERESTELLAR (2014)
Direção: Christopher Nolan
Elenco: Matthew McConaughey, Jessica Chastain, Anne Hathaway, Bill Irwin, Matt Damon, John Lithgow e Michael Caine.

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