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Mostrando postagens de 2015

Pioneirismo Dantesco

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O Regresso é um filme que consolida esta que eu chamo de a 2ª Fase da obra de Alejandro González Iñárritu. Em seus 3 primeiros filmes, o diretor, em parceria com o roteirista Guillermo Arriaga, se caracterizava por realizar filmes cuja temática e narrativa centravam em torno de histórias aparentemente deconexas, cujo elo se dava a partir de um evento trágico: um acidente automobilístico em Amores Brutos e 21 Gramas, e uma "bala perdida'' que alveja uma turista em um ônibus, no caso de Babel. Poder-se-ia dizer que Iñarritu assumia-se como um maestro do caos. A partir de Biutiful, no entando, o diretor inicia uma mudança de foco e de estilo - marcando também o início do rompimento da parceria com Arriaga. Em sua 2ª Fase, composta até aqui por 3 filmes (o já citado Biutiful, o premiado Birdman e este The Revenant), o diretor passa a narrar histórias de homens determinados à "dar a volta por cima'', por assim dizer, em suas vidas. Se em Biutiful tínhamos

Essa é pra comer. Essa é pra casar.

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Enquanto assistia ao filme, procurava alguma explicação para o estranho e ousado título "A Mãe e a Puta" e confesso que ele foi um dos atrativos que me levaram a procurara o filme e assisti-lo. E essa frase tão comum no meio machista talvez ajude a entender a escolha do autor pelo nome de sua obra. O filme narra as desventuras de Alexandre, um homem parisiense que se torna pivô de um triangulo amoroso com duas belas, complexas e fascinantes mulheres. Mas Alexandre é um anti-herói pelo qual o expectador dificilmente nutrirá simpatia ou admiração: ele é imaturo, inseguro, mentiroso, fútil, egocêntrico e mimado. "Não gosto de dignidade. Minha única dignidade é minha covardia", ele diz a certa altura do filme. E machista: incapaz de lavar os copos que suja, quando interpelado por Maria (que praticamente o sustenta, com uma mãe solteira) se gaba de tê-los lavado um vez, há tempos atrás; admite que as parades do apartamento que divide com Maria tem marcas de sangue da

Mater Dei & Curry

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O filme merece ser visto por ser uma fascinante saga indiana de uma mulher para sobreviver e criar seus filhos apesar de todas as adversidades. Se, disso que eu disse, tirarmos a parte dos filhos, poderíamos facilmente dizer que minha frase se refere ao clássico Hollywoodiano E o Vento Levou... (1939). Porém, apesar de história comovente e da atuação cheia de verdade da protagonista Nargis interpretando Radha, o filme possui defeitos muito sólidos, que acabam influindo negativamente no resultado final e prejudicando a fruição da obra. O céu cenográfico usado em algumas cenas, por exemplo, é um desses defeitos. A atuação de Sunil Dutt como o filho Birju na idade adulta, ao meu ver, é o maior deles. O trabalho do ator é caricato, forçado, exagerado e, mesmo que se afirme que isso seja característico da dramaturgia indiana ou que o trabalho dos demais atores também o sejam, o notório o quanto o desempenho dele destoa negativamente dos demais. Além disso, a maquiagem excessivame

Trocas Culturais e Diálogos Cinematográficos

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De acordo com José Luiz dos Santos, professor de Antropologia da Unicamp, SP, ' 'a cultura é um produto coletivo da vida humana ''. (O que é cultura?, 1994, ed. Brasiliense) Trocas culturais são uma uma constante nas sociedades humanas. Nenhum homem é uma ilha, afinal, e a história mostra que os povos que se isolaram terminaram inevitavelmente extintos. Pensando nisso, as melhores versões de Shakespeare para o cinema - ao meu ver - foram feitas pelo cineasta Akira Kurosawa, transportando as narrativas do bardo para o contexto do Japão feudal. Trono Manchado de Sangue (蜘蛛巣城, Kumonosu-jō, ou numa tradução literal, "Castelo Teia de Aranha", de 1957) é uma brilhante versão da peça - tida como maldita por muitos - Macbeth, que em vez de retratar a intriga entre nobres e guerreiros Escoses, se passa entre samurais japoneses do período Sengoku. Na peça maldita, Macbeth é um nobre escoces, chefe militar respeitado, General do exército do Rei Duncan. Um di

O Mal Necessário

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Os Brutos também Amam é possivelmente o faroeste mais amado de todos. Dirigido pelo cineasta George Stevens (de Um Lugar ao Sol, O Diário de Anne Frank e Assim Caminha a Humanidade) encantou gerações, tornando-se uma lenda e gerando em torno de si uma espécie de culto. Pela direção magistral, pela fotografia que deslumbra e pelos atores em sua melhor forma, mas, sobretudo, pelas imagens que nos legou: a torta de maçã tenra, dourada, quente, sendo servida após o jantar; o cervo que, parado sobre um espelho d'água, observa a paisagem; o forasteiro errante que chega sem aviso e fica, tomado por um inesperado senso de justiça; o olhar deslumbrado do menino do rancho ante a bravura deste forasteiro; o vilão misterioso, trajado de preto, magro, alto, exibindo uma pistola de cada lado da cintura; ou o cavaleiro que parte e já cavalga ao longe, na direção das montanhas rochosas cujos cumes nevados emolduram o horizonte.... enfim, um clássico absoluto. Porém, para além de suas qual

A Escuridão Instrínseca

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Muitas pessoas não gostam - ou não gostaram - de O Iluminado por duas razões: ou esperaram dele um filme de terror+suspense do tip opadrão, ou porque esperaram uma adaptação fiel do livro de Stephen King. Contudo, ao Kubrick não interessava fazer nem uma coisa, nem outra. No livro, por exemplo, a família Torrence está num hotel assombrado por fantasmas/espíritos, e Jack acaba sendo possuído por esse mal, que o leva a empreender uma chacina. Seu filho Danny é um garotinho tímido, que teve o braço acidentalmente quebrado por seu pai, e que descobre ter capacidade de ler mentes e ver espíritos. Mas essa ideia de uma mal externo ao homem que o leva a cometer coisas horríveis é o oposto do que Kubrick pensava e que está demonstrado em sua filmografia. Para Kubrick o mal é algo intrínseco ao homem e esse mal só é controlado de um modo muito precário pela normas sociais. Portanto, ao contrário do livro, no filme o que leva Jack tentar matar toda a sua família é a própria maldade int

Bastardos Poliglotas

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Bastardos Inglórios não é só um filme sobre vingança. Bastardos Inglórios não é igual a todos os filmes do Tarantino - e ainda que o fosse, estaria necessariamente desprovido do qualidades? Todavia, trata-se de um filme no qual Tarantino demonstra notável evolução, indo além do seu arsenal corriqueiro (os filmes B de artes marciais, por exemplo, e elementos a cultura pop, como músicas da Madona), dotado de nostalgia e saudosismo, e parte para uma temática dita mais "séria", já explorada à exaustão pelo cinema de arte , especialmente na profundamente semita hollywood: o nazismo e o holocausto. Neste seu filme, Tarantino burla radical e malandramente a norma dos filmes desse gênero, inserindo um humor mais ácido que aquele no qual Benigni mergulha o seu A Vida é Bela (La Vita è Bella, 1997). E o faz demonstrando impressionante, ousado e fluente uso da linguagem em suas variáveis através da linguagem que já provara dominar anteriormente: a cinematográfica. Quando assistimos a

Quando os justos não tem mais vez

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Onde os Fracos não tem vez, ou, em ingles, No Country for Old Man, é um grande filme, mas sua falta de obviedade naturalmente afasta os apreciadores de obras mais "mastigadinhas". O final, no qual o vilão não é punido, como muitos esperaram e como é tão comum no cinema hollywoodiano, deixa alguns expectadores perplexos e outros decepcionados. Essa foi uma das coisas que eu mais ouvi nas crítica ao filme feitas por aqueles que não gostaram dele, pois para muitos, o vilão precisa ter um final trágico, que moralize a história e propicie uma catarse ao expectador. Mas isso não acontece - felizmente. E esse é dos pontos nos quais reside a força e o apelo do filme. Primeiramente, é bom ter em mente que o personagem de Josh Brolin não é o protagonista, apesar da narrativa gerar em torno dele. O principal personagem é o de Tommy Lee Jones, e toda a história é contada do ponto de vista dele, e portanto analisada sob os valores dele. É ele que passa o filme no rastro do vilão Ant

Um Farol no Oeste

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Um filme que narra, por meio da história de uma família, uma parte da história de uma nação. Essa curta sinopse poderia perfeitamente descrever diversos filmes, mas talvez E o vento Levou e Assim Caminha a Humanidade sejam os mais notórios. Este Cimarron, porém, surpreende pois, apesar de ser um western clássico na maior parte de sua duração, apresenta em sua trama elementos - ao meu ver - pouco comuns e bastante ousados para época. Cimarron narra com um dos mais turbulentos e marcantes acontecimentos da história dos EUA, durante chamada ''Marcha para o Oeste'', responsável, por um lado, pela a expansão territorial estadunidense e, por outro, pela intensificação do extermínio de diversos povos indígenas. O filme começa com a corrida de 1889, quando o presidente Benjamin Harrison abriu as terras indígenas para que fossem ocupadas pelos colonos, ocupando assim as terras da região que se tornaria o estado de Oklahoma. A cena da corrida por terras levou uma semana