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Mostrando postagens de fevereiro, 2016

Os Oito Humanos

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" Eu não conheço aquele negro. Mas eu sei que ele é negro. E isso é tudo o que eu preciso saber. " " Porque é quando os negros estão com medo que os brancos estão seguros. " " Senhores, eu sei que os americanos não estão aptos para deixar uma coisa pequena como a rendição incondicional ficar no caminho de uma boa guerra. " " Homens negros contando o meu dinheiro! Eu odeio isso. O único tipo de pessoa que quero contando meu dinheiro são pequenos caras que usam quipás todos os dias. " " Quando o México envia seu povo, eles não enviam seu melhor [...] Eles estão enviando pessoas que têm muitos problemas. Eles estão mandando problemas para nós. Eles estão trazendo drogas, crimes e estupradores, e alguns deles são boas pessoas ." " Eu vou construir um grande muro - e, acredite, ninguém constrói muros melhor do que eu - e vou fazer isso de um jeito muito barato. Eu vou construir uma grande muralha em nossa fronteira sul, e vo

Adeus, meninas!

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Segundo o levantamento feito no Censo 2010, apesar da legislação federal considerar crime a relação sexual com menores de 14 anos (mesmo consentida, a relação é classificada como "estupro consensual"), no Brasil existem cerca de 47 mil meninas com idades de 10 a 14 anos que estão casadas. Contudo, apesar dessa ser uma prática mais associada às regiões mais atrasadas em termos de acesso à informação e à serviços públicos básicos (como saúde e educação) e distantes dos centros urbanos, ela também tem acontecido nas áreas mais prósperas - e consequentemente mais desiguais - do país. De acordo com uma estimativa do Unicef baseada em dados colhidos em 2011, o Brasil ocupa o 4º lugar no ranking mundial do total de mulheres casadas antes dos 15 anos. No mundo, seriam cerca de 877 mil mulheres com idades entre 20 e 24 anos que admitiram ter se casado antes dos 15 anos. Todavia, essa projeção não inclui, por ausência de dados, países como Líbia, Omã, Catar, China, Bahrein, Irã,

Corpo Cativo, Alma Livre

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As cenas que abrem e fecham o filme estabecelem estreito diálogo uma com a outra: primeiro, um antílope correndo entre os arbustos do deserto do Mali, sendo perseguido por jihadistas do Estado Islâmico em um jipe; depois, uma garota orfã, correndo pelas dunas, completamente sozinha e vulnerável. Nelas, assim como no resto filme, a amplidão da paisagem que os personagens tem ao seu dispor contrasta fortemente com a opressão à qual estão submetidos, sendo ela o grande fator a limitar seus horizontes. " A mulher é o negro do mundo. A mulher é a escrava dos escravos. Se ela tenta ser livre, tu dizes que ela não te ama. Se ela pensa, tu dizes que ela quer ser homem ." (John Lennon) O filme, assim, explicita um dos seus focos: a situação de extrema vulnerabilidade da mulher numa sociedade tribal de um país africano, que piora quando a região cai no controle de um grupo armado fanático muçulmano. O outro ponto no qual ele se foca é o quanto a vida dessas mulheres sempre está sub

O universo num quarto

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"Tudo aquilo que o homem ignora, não existe pra ele. Por isso o universo de cada um, se resume no tamanho de seu saber." (Albert Einstein) Jack é um menino de 5 anos que, desdeo nascimento, vive em um pequeno quarto com sua mãe. Nunca saiu dele, nem nunca viu nada além dele, exceto as imagens da televisão, que ele vê como irreais e não como compreende que sejam representações do mundo "lá fora". Para ele, o mundo todo é aquele quarto, com tudo o que ele encerra, e além dele há apenas um vácuo. Jack não sabe que está ali porque sua mãe foi raptada há 7 anos atrás, que aquele quarto que para ele é tudo, para ela é o nada é uma não-lugar: um cativeiro, uma prisão. Sua mãe, no entanto, ama Jack, mesmo ele sendo fruto de anos de abuso sexual (estupro) por parte de seu sequestrador, o qual Jack aprendeu a chamar apenas por Velho Nick, e do qual consegue ver, nas noites me que ele visita sua mãe, apenas detalhes por entre as frestas do guarda-roupas onde Jack é por

Só os que amam permancem vivos

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As lendas sobre vampiros são antigas e controversas: não se sabe, com certeza, onde e quando surgiram. Segundo alguns estudiosos, teriam surgido no leste europeu, por volta da Idade Média - mas podem ser mais antigas do que isso. Considera-se que a figura do vampiro, enquanto personagem da cultura, tem início na literatura, por meio do livro Drácula, do escritor Bram Stocker, de 1897, mas antes já haviam contos e até poesias tratando do assunto, de autores como Heinrich August Ossenfelder, Gottfried August Bürger, Johann Wolfgang von Goethe, Samuel Taylor Coleridge, Lord Byron e John Polidori. Com o passar dos tempos, os vampiros conquistaram outras mídias, com cinema, especialmente. Contudo, nos últimos anos, os vampiros passaram a ser deturpados, principalmente por meio de uma série literária voltada para o público juvenil que logo ganhou as telas do cinema: a saga Crepúsculo. Nela, os vampiros pareciam-se mais com fadas, pois, em vez de queimar quando expostos ao sol, eles brilh

O Lobo e o Cordeiro

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As pessoas, em geral, são facilmente enganadas pela aparência. Não julgar o livro pela capa, é um dito popular que todos conhecem e empregam, mas pouco realmente colocam em prática. Quando o assunto é cinema e atuação, esse paradoxo pode ser percebido sem dificuldades: muitas vezes uma atuação baseada em elementos óbvios e explícitos (como maquiagem que transforme radicalmente o ator) são mais valorizados do que atuações intimistas, profundas e baseadas em elementos mais implícitos (como olhares, gestos, pausas, silêncios...). Isso aconteceu, por exemplo, com o desempenho de Nicole Kidman em As Horas (The Hours, 2002), que lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz, quando suas colegas de cena - Meryl Streep e Juliane Moore - ofereciam, no mesmo filme, atuações muitíssimo mais sólidas. O mesmo aconteceu com Javier Barden em Onde os Fracos não tem Vez (No Countrey for Old Man, 2007), que levou inumeros prêmios, incluindo o Oscar, e é sempre lembrado pelos cinéfilos, quando a verdadeira alma d

Brain Damage

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Esse filme, pelo qual Will Smith injustamente não foi indicado ao Oscar de Melhor Ator (sua atuação é muito superior à caricatura vergonhosa feita por Eddie Redmayne em A Garota Dinamarquesa) é uma história fascinante, que, para aqueles que acreditam em ilusões como o "sonho americano", a "terra das oportunidades" ou "maior democracia do mundo", pode ser surpreendente. O filme coloca em relevo alguns graves problemas dos EUA, por meio da história real do médico nigeriano que migrou para aquele país e que, trabalhando como perito forense, acaba descobrindo algo que compromete a credibilidade do principal esporte do país. Quem assistiu a documentários como Comida S.A. (Food Inc., 2009), Capitalismo: uma história de amor (Capitalism: A Love Story, 2009) e SOS Saúde (Sicko, 2007), ou filmes como Obrigado por Fumar (Thanks to Smoke, 2006), entende como o poder das corporações é gigante naquele país, exercendo enorme influência sobre políticos e agências gov

Cidadã Mangano

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David O. Russell, nesse seu 9º filme faz um amálgama de 2 narrativas muito comuns no cinema hollywoodiano: primeiramente a história da mulher simples, de classe média, trabalhadora, que depois de muita luta e - em certa medida - de confrontação de uma certo sistema ou status quo, supera-se e vence na vida; em segundo lugar, a história do "self-made-man" (nesse caso, uma self-made-woman), que sozinho e contrariando todas as expectativas, constrói para si um império. O primeiro tipo de narrativa pode ser encontrado em filmes como Norma Rae (idem, 1979) e Erin Brokovich (idem, 2001), os quais, junto de Joy, guardam mais uma semelhança: os 3 tem o nome de suas protagonistas como título. Já o segundo exemplo é visível em filmes como o clássico Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941) ou os mais recentes Sangue Negro (There will be Blood, 2007) e A Rede Social (The Social Network, 2010). Com o clássico de Orson Welles o filme tenta estabelecer um diálogo ao apresentar, numa das cenas

Mundo Imundo

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"Ouça-me bem amor preste atenção o mundo é um moinho..." O filme é mudo, de traços simples - os traços de uma criança - mas sua eloquência é impar, sua mensagem ecoa e suas imagens penetram a alma e se fixam na memória. E as questões que ele provoca são muitas: a crescente mecanização dos meios de produção; a desigualdade na distribuição (cada vez mais nas mão de poucos) e no uso (cada vez menos voltadas à satisfação das necessidades básicas da humanidade) das terras; o crescimento do latifúndio; o desemprego e a desvalorização da mão-de-obra humana; o êxodo rural (migração campo-cidade) e a consequente expansão das periferias (favelização); as desigualdades sociais; a concentração de renda; a incontrolável exploração dos recursos naturais até a exaustão de ecossistemas; a extinção de espécies; a poluição e degradação de solos, rios, mares, atmosfera; a alienação do trabalho no sistema capitalista; o consumismo; o onipresente marketing nos dizendo para comprar e comprar

Monstros sem Pátria

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Filmes centrados nas histórias de crianças cujas vidas e inocências são devoradas pelo horror da guerra não são raros: dos brutais e colossais Vá e Veja (Idri e Smoti, 1985), de Elem Klimov e a Feiticeira da Guerra (Rebelle, 2011), de Kim Nguyen, aos mais convencionais Esperança e Glória (Hope and Glory, 1987) e Filhos da Guerra (Europa, Europa, 1990). Este Beasts of no Nation (ainda sem título em português, mas cuja tradução mais adequada seria "Monstros sem Pátria") se irmana aos dois primeiros filmes citados, em sua crueza e no fato de, ao longo de sua narrativa, se ocupar em descrever o processo por meio do qual crianças são cooptadas por grupos armados e transformadas em máquinas de matar. E nesse ponto, o filme do diretor Cary Joji Fukunaga, estrelado pelos ótimos Abraham Attah e Idris Elba guarda muitas semelhanças com Feiticeira da Guerra: ambas as histórias estão situadas em um país africano que passa por uma guerra civil; ambos os protagonistas tiveram suas

Pièce de Résistance

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Esse não é só um ótimo filme, mas uma bela aula de história do cinema, que traz como pano de fundo uma mancha na história dos EUA e de Hollywood: o Macarthismo, ou a perseguição descabida e insana, por parte, inicialmente, de políticos conservadores, à diretores, roteiristas, atores e qualquer outra pessoa que tivesse envolvimento com o comunismo. O filme conta com uma reconstituição de época impecável, que não se percebe apenas em cenários e figurinos, como também na escolha do elenco - afiadíssimo - composto de interpretes fisicamente muito parecidos com as figuras históricas que interpretam. O desempenho de Cranston no papel do roterista combativo, polêmico e perseguido é irretocável e sem dúvidas o maior mérito do filme e - ao meu ver - a melhor atuação deste ano. Certamente irá perder o Oscar para Leonardo DiCaprio - cujo mérito é inequívoco, mas cuja atuação está um pouquinho abaixo desta aqui. É comum traçar um paralelo entre a Inquisição, na Idade Média, àquela persegu

Questão de Personalidade

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A história de Lily Elbe, a primeira pessoa a se submeter à uma cirurgia de transexualização é real. Nascida Einer Wegener, antes de se assumir como Lily, foi casada com Gerda Wegener. Ambos eram pintores/artistas pláticos e, ao contrário do que mostra o fime, não permaneceram juntos até o final. Porém, apesar da reconstituição de época (figurino, cenários, maquiagem, direção de arte) ser impecável, atuação de Eddie Redmayne é que deixa a desejar, resultando - a julgar pelas indicações aos prêmios - muito superestimada, uma vez que é cheia de maneirismos e afetação desnecessários. O excesso de gestos e olhares empregados pelo ator com o intuito de construir uma caracterização feminina resulta excessivamente caricata. Assim, temos um protagonista que não consegue cativar, pois tanto ator quanto o roteiro e a direção preferiram fazer um retrato tristonho e depressivo de Lilly, que parece muito mais feliz quando é Einar. Desse modo, o filme acaba atirando no próprio pé, pois não nos co