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Mostrando postagens de janeiro, 2016

O homem X O mito

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Para muitos que assistiram, essa segunda cinebiografia de Steve Jobs é um filme incompleto. Certamente esperavam uma narrativa cronologicamente encadeada narrando praticamente toda a vida do biografado: a infância problemática, a juventude, a descoberta da doença, até a morte e finalizando com uma "mensagem póstuma", provavelmente em tom edificante. Mas felizmente o filme não procura agradar ao publico mais medíocre, afinal, filme anterior (Jobs, 2013) faz exatamente isso, ou seja: segue fórmulas já desgatadas para fazer um filme medíocre que agrada um público maior. Sabiamente, o diretor Danny Boyle e o roteirista Aaron Sorkin fogem desse caminho fácil e realizam um filme extraordinário, que talvez seja apreciado por poucos. Afinal, se Steve Jobs não fazia concessões, porque um filme sobre ele deveria fazê-las? E esse filme, protagonizado por Michael Fassbender numa atuação irretocável (apesar de muitos terem insensatamente criticado a "falta" de semelhança

A Fúria da Fêmea

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George Miller, depois de provar sua versatilidade em filmes tão distintos quanto o drama O Óleo de Lorenzo (1992), a animação Happy Feet (2006) e os outros 3 Mad Max (1979, 1981, 1985), agora coroa sua carreira com essa jóia repleta de possibilidades de leitura e interpretação, merecendo sem dúvidas o título de mestre. Primeiramente, devemos ter em mente que esse 4º filme da franquia Mad Max é um filme de ação, e como tal, não poderia abrir mão das cenas de perseguição, das explosões, tiros e violência. E nesses aspectos, temos aqui um filme que dificilmente será superado, um verdadeiro marco - e divisor de águas - não só dentro desse gênero, mas no Cinema como um todo. Ele eleva o filme de ação a outro nível, conciliando à perfeição conceitos que alguns mais conservadores insistem em opor: ação e arte, adrenalina e reflexão. Dito isto, devemos então entender que, por quaisquer temáticas que o roteiro ousar se enveredar, a ação não deve ser abandonada. E as searas pelas qua

Em terra estrangeira

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A princípio o filme pode causar algum estranhamento na platéia, pois tudo - exceto a passagem algo cômica do mal-estar durante a viagem de navio - parece fácil demais para a jovem irlandesa Eilis Lacey que deixa sua terra em busca do "sonho americano": ela parte para os EUA já tendo a garantia de um lugar onde morar e um emprego, tudo arranjado por um padre também irlandês (Jim Broadbent) que dirige uma paróquia no Brooklyn. O "bom-mocismo" de Eilis, que prefere trabalhar como voluntária na ceia natalina que a paróquia supracitada oferece anualmente aos mendigos, em vez de festejar na pensão onde vive com amigas da mesma idade; e o namoradinho italiano bem apessoado, educado, gentil, carinhoso e atencioso - até parece que esconde algo - contribuem para criar essa sensação. E durante a primeira meia hora do filme esse detalhe, aliado à atuação ainda pouco convincente de Saoirse Ronan contribuem, para que o espectador desenvolva certa desconfiança para com a o

Eyes and Smoke

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"Yet today my love has flown away / I am without my love..." Esse é definitivamente um filme para ser ver não apenas com os olhos, mas "nos olhos". E os olhos em questão são os olhos da magnífica atriz Charlote Rampling, numa atuação impressionante, minimalista e magistral. E é um filme para se entender nas entrelinhas, especialmente da clássica Smoke get in your Eyes, canção que encerra o filme.  Temos aqui um filme que, à semelhança e obras-primas como A Cruz dos Anos (Make Way for Tomorrow, 1937) de Leo McCarey, e Amor (Amour, 2012) de Michael Haneke, se centram na história de um casal já idoso tendo de lidar com as consequencias da velhice e os fantasmas do passado. No caso deste filmes do diretor Andrew Haigh, temos, no decurso de uma semana - que antecede a festa de 45 anos de casamento - a história do casal Kate (Rampling) e Geoff (Tom Courtenay). Uma carta escrita em alemão trazendo a notícia de o corpo de um pessoa há muito desaparecida foi encont

Um Legado

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Nenhum esporte foi tão retratado nos cinemas quanto o pugilismo - ou boxe, como é mais conhecido. A origem desse esporte é controversa: alguns afirmam que surgiu na Inglaterra, outros na Irlanda, mas o esporte seria conhecido desde a antiguidade. Onomasto de Ermínia, por exemplo, pugilista vencedor nos jogos Olímpicos do ano 688 a.C., é tido como o primeiro a definir as regras do esporte. No cinema, ele aparece desde os primeiros clássicos do cinema mudo, como em Luzes da Cidade (1925), de Chaplin. Depois em filmes consagrados como O Delator (The Informer, 1935), de John Ford, com Victor McLagen; Corpo e Alma (Body and Soul, 1947), de Robert Rossen, com John Garfield; e  Marcado pela Sargeta (Somebody Up There Likes Me, 1956), de Robert Wise, com Paul Newman. No entanto, o filme que marcou, entre o público, o esporte na sétima arte, foi Rocky, um lutador (Rocky, 1976), de John G. Avildsen. Marcou porque lançou ao estrelato o jovem Silvester Stallone - que havia começado a carrei

Livrai-nos dos Lobos

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"Escute, nada fará sentido para os seus ouvidos americanos. E você vai duvidar de tudo o que fazemos, mas no fim, você entenderá." Essa frase, dita em certo momento do filme pelo personagem de Benicio Del Toro (magistral) à agente do FBI interpretada por Emily Blunt (incompreendida e subestimada) dá o tom do que o espectador terá ao assistir não só a esse, mas como a qualquer outro filme do diretor Denis Villeneuve: nada nem ninguém é certo ou confiável, toda aparencia engana, nenhum expectativa será correspondida, nenhuma resposta será dada que encerre as questões. Se tomarmos como exemplos os 3 principais filmes do cineasta (Incendies, Prisioners e Sicario), é possível depurar uma estrutura essencial em sua obra que tentarei rapidamente decompor: 1 - Um personagem principal que irá entrar em uma realidade desconhecida e estranha e que sairá dela completamente modificado ou devastado. No caso de Incendies (2010), os irmãos Jeanne (Mélissa Désormeaux-Poulin) e Simon (M

Instinto Vital

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Uma família aparentemente perfeita e coesa, de férias nos Alpes, tem sua estrutura abalada após sobreviver à uma avalanche - este é o mote desse instigante e belo filme. A força maior à qual o título do filme se refere poderá ser interpretada a partir de diferentes perspectivas. Inicialmente, ela pode ser tomada pela força da natureza, bem como incontrolável e insondável acaso que ela enseja e/ou representa. Enquanto esperam seu almoço num restaurante da estação de esqui, os turistas que ali estão (incluindo a família em questão) não sabem o que lhes aguarda quando a avalanche começa a descer: uma ameaça iminente ou apenas um arrepiante fenômeno da natureza? Estarão eles, do mirante em que se encontram, seguros e à salvo?                 Posteriormente - e passado o susto - a força maior pode ser tomada em outras significações: nossos instintos mais básicos, que numa situação de perigo iminente, prevalecerão sobre qualquer racionalidade e moralidade. É aí que a relaçã