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Mostrando postagens de 2016

Um olhar equivocado, um filme superestimado

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Esse, ao lado de Olga, Moulin Rouge, Austrália e O Menino do Pijama, é um daqueles filmes que eu não entendo como alguém consegue gostar. Geralmente seus apreciadores argumentam que ''ele tem uma fotagrafia linda'', por exemplo. Afirmação da qual eu discordo veementemente. Não ele não tem uma fotografia linda, nem foda, nem espetacular. Ele tem imagens coloridas de campinas ao por do sol, por exemplo, quando a protagonista está no Limbo, mas a fotografia é apenas mediana. Fotografia, aliás, em cinema, é um pouquinho mais complexo do que apenas um enquadramento bonito ou imagens plasticamente belas. E mesmo que tivesse, o filme se resumiria a isso, com imagens que impressionam certo tipo de espectador (não é o meu caso, felizmente), mas que se revela apenas uma tentativa de mascarar certo vazio, certa carencia de consistencia e substancia. São ''estripulias'' visuais, que tentam compensar o fato de o filme não ter muito a oferecer, semelhante ao que aco

O Falso Herói

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A cineasta polonesa Agnieszka Holland ficou conhecida internacionalmente por este filme duro e sombrio passado durante a Segunda Guerra Mundial, indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Este Colheita Amarga (Bittere Ernte, 1985) aborda a questão do anti-semitismo, da perseguição e do extermínio de judeus pelos nazistas nos territórios controlados por eles na Europa, temas recorrentes em sua filmografia, especialmente nos filmes Filhos da Guerra (Europa, Europa, 1990), indicado ao Oscar de Melhor Roteiro, e o meu preferido Na Escuridão (W ciemności, 2011), também indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. O filme, estrelado pelo grande Armin Mueller-Stahl (Coronel Redl, Muito mais que um Crime, Shine) acompanha a crise moral e de identidade pela qual o polones Leon Wolny, que abandonou o sonho de ser padre para cuidar da granja da família após a morte do pai, passa ao tentar esconder uma mulher judia, Rosa Eckart, que conseguiu fugir de um trem que levava prisioneiros dos gu

Um pijama listrado e roteiro desastrado

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Não entendo como as pessoas possam gostar tanto deste O Menino do Pijama Listrado (The Boy in the Striped Pyjamas, 2008), havendo outro tão superiores em todos os sentidos tratando dos mesmo temas, isto é, holocausto, anti-semitismo e nazismo. Filmes como A Lista de Schindler (Schindler's List, 1993), A Escolha de Sofia (Sophie's Choice, 1982), O Pianista (The Pianist, 2002), de Roman Polanski, O Diário de Anne Frank (The Diary of Anne Frank, 1959), de George Stevens, Filhos da Guerra (Europa, Europa, 1990) e Na Escuridão (W ciemności, 2011), ambos de Agnieszka Holland, Os Falsários (Die Fälscher, 2007), de Stefan Ruzowitzky, ou O Filho de Saul (Saul Fia, 2015), merecem muito mais o apreço e a veneração que este filme medíocre, piegas, maniqueísta e desonesto dirigido por Mark Herman. Este superestimado drama é maniqueísta e desonesto pois pretende, por meio da amizade entre o menino alemão Bruno (Asa Butterfield, sem carisma e inexpressivo, como sempre) e o menino judeu Shmu

Respeitável público

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Não são raros os filmes se ocupam de retratar o quotidiano de artistas ou os bastidores de diferentes manifestações artísticas, sem necessariamente constituirem-sem em relatos biográficos. É o caso do teatro, descortinado em filmes soberbos como Fatalidade (A Double Life, 1947), A Malvada (All About Eve, 1951) e Birdman (Birdman, 2014); ou do próprio cinema, desvelado em filmes brilhantes como Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, 1951), Oito e Meio (8½ di Fellini, 1963) ou A Noite Americana (La Nuit Américaine, 1973); ou o circo, retratado em filmes como O Circo (The Circus, 1928), O Maior Espetáculo da Terra (The Greatest Show on Earth, 1952) e este O Palhaço (2011). Confesso que posterguei o quanto pude o ato de assistir a essa segunda incursão de Selton Mello na direção de um longa-metragem, no intuito de ve-lo sem expectativas, uma vez que foi muito falando quando de seu lançamento. Minha conclusão é que, apesar das qualidades, como a trilha sonora, os figurinos e a fotogra

Ouro Negro

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Esse é um filme que exige muito de quem o assiste. Exige que se tenha atenção, pois a narrativa acompanha diversos personagens, tramas e subtramas, pois os diálogos são rápidos, ferozes, onde o que está subentendido é muitas vezes mais importante do que é explícito. Mas exige, principalmente, conhecimento, do expectador, a respeito de temas densos e complexos como a geopolítica do Petróleo e a história do Oriente Médio. O filme acompanha 4 personagens ''principais'': o agente da CIA Robert Baer (George Clooney), o analista especialista em recursos energéticos Bryan Woodman (Matt Damon), o advogado Bennett Holiday (Jeffrey Wright), e Wasim Ahmed Khan, imigrante paquistanês em busca de trabalho (Mazhar Munir). Baer é um agente especializado em questões relativas ao Oriente Médio, que trabalhou anos no Irã, ajudando a criar, treinar e financiar grupos de oposição ao regime teocrático nacionalista implantado pelo Aiatolá Khomeini após a Revolução Iraniana de 1979. A

O anti-Napoleão

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Esse filme é mesmo um obra-prima, e Kubrick o realizou como uma espécie de "prêmio de consolação" a si mesmo por conta dos obstáculos impostos pelos estúdios para a realização de sua obra mais desejada e nunca realizada, que seria um filme sobre o próprio Napoleão Bonaparte. Os "traços" marcantes do grande mestre, ao meu ver, podem ser divididos em dois tipos: 1) estéticos ou plásticos; 2) narrativos. Os traços estéticos próprios de Kubrick são, em primeiro lugar, a preferência por enquadramentos e composições de cena simétricos. Eles estão presentes em Barry Lyndon, mas nesse filme ele empregou um recurso que não costumava usar em seus filmes anteriores, uma vez que ele costuma posicionar a câmera quase sempre num ponto fixo, geralmente um pouco abaixo do nível dos olhos dos atores (os contra-plongées, que seriam sua segunda característica estética constante). Esse recurso, empregado em Barry Lyndon é o uso de zoom-ins e zoom-outs. Uma cena exemplar, nesse sen

Game Of Thrones: Profecias e Teorias

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Na medida em que a série caminha para o que - por enquanto - parece ser o seu desfecho, aumenta nossa expectativa para saber a resposta à grande pergunta: "Quem terminará como senhor do Trono de Ferro?" Mas, para responder à essa questão - ou aproximar-se ao máximo dela - é preciso tentar responder à outras duas perguntas, que, em geral, aqueles que só tiveram contato com a saga escrita por Martin por meio da TV, desconhecem. Essas perguntas são: Quem é a reencarnação do héroi Azor Ahai? Quem são as Três Cabeças do Dragão? Às solução dessas questões, vamos também ficando mais perto, obviamente, na medida que as história é contada. De acordo com os livros, Azor Ahai teria sido um herói lendário que viveu durante o período conhecido como "A Longa Noite", há cerca de oito mil anos antes dos fatos narrados na série. Azor Ahai, dotado de sua espada flamejante (a Luminífera), foi o responsável por enfrentar e vencer os "Outros", expulsando-os para além da Gr

Herói Injustiçado

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Alan Mathison Turing nasceu em 23 de junho de 1912, em Londres, Reino Unido. Foi um matemático, lógico, criptoanalista e cientista, considerado por muitos o "pai da computação" e pioneiro dos estudos e pesquisas sobre inteligência artificial. De fato, teve grande influância no desenvolvimento da ciência da computação e na formalização do conceito de algoritmo, com a invenção da "máquina de Turing", batizada por ele de "Christopher", durante a Segunda Guerra Mundial, um equipamento que pode ser considerado o precursor dos computadores. Turing trabalhou para a inteligência britânica em Bletchley Park, num centro especializado em quebra de códigos. Por um tempo ele foi chefe do Hut 8, a seção responsável por analisar e decrifar o " Enigma ", isto é, o sistema criptografia usada para comunicação pela frota naval da Alemanha Nazista. No filme do diretor Morten Tyldun, a narrativa se foca no período passado durante a Segunda Guerra e na equipe de

A Rainha Virgem

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Em 1998 estrou nos cinemas o filme Elizabeth (1998), dirigido pelo anglo-indiano Shekhar Kapur e protagonizado pela australiana Cate Blanchett. Era mais um entre as dezenas de filmes a retratar a monarca inglesa, mais conhecida como Isabel I, a "Rainha Virgem", que já havia sido interpretada, por exemplo, pela lendária Bette Davis em Meu reino por um Amor (The Private Lives of Elizabeth and Essex, 1939), dirigido por Michael Curtiz (de Casablanca). No filme de Kapur, a história tem início em 1558, quando a rainha católica Maria I, irmã de Elizabeth, econtra-se à beira da morte, acometida por um tumor no útero. Sem opções, ela acaba vendo-se forçada a deixar o trono para sua meia-irmã, e única herdeira ao trono, Elizabeth, filha do rei Henrique VIII com Ana Bolena. Elizabeth econtrava-se presa, acusada de conspirar contra a Coroa. Na época, caracterizada pela Contra-Reforma, ou seja, um movimento reacionário católico contrário à Reforma Protestante iniciada pelos teólogos

A Catequisação dos Inocentes

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"Você entendeu a parte que diz que a ciência não prova nada?", diz, em certo momento, uma mãe ao seu filho Levi, de cerca de 12 anos. Levi, assim como seu irmão, tem aulas em casa, com os pais, que optaram por não matricula-los em escolas. A mãe justifica dizendo que não nenhuma passagem na Bíblia dizendo que os pais devam entragar seus filhos, 8 horas por dia, para serem ensinados fora de casa. Em seguida Levi diz: "Eu acho que Galileu fez a coisa certa escolhendo Deus em vez da ciência." Esqueçam, portanto, os filmes de Terror. Esse é de longe a coisa mais assustadora que já assisti. Nesse brilhante e impactante documentário, as diretoras Heidi Ewing e Rachel Grady revelam a rotina de um acampamento para evangelização de crianças e adolescentes cristãos no EUA. As cenas da lavagem cerebral e da tortura emocional e psicológica às quais meninos e meninas são submetidos é totalmente chocante pra o espectador que tiver o mínimo de bom senso. Apesar disso, é um f

O martírio de Erika

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O cinema de Haneke se constrói invariavelmente sobre a exploração de dois temas: a violência em suas diferentes formas (física, verbal, simbólica, psicológica, cultural) e a oposição e o interno e o externo entendido como espaços ou lugares, nos quais essa violência toma forma. Em A Professora de Piano, a violência aparece na relação destrutiva da protagonista Erika (na monumental atuação de Isabelle Huppert) com sua mãe (uma figura castradora contruída no molde freudiano clássico), dela consigo mesma, dela com seus alunos e, posteriormente, dela com o jovem Walter Klemmer. O estudo de personagem que Haneke propõe com seu filme é a dissecação implacável de sua protagonista - e aí temos também um tipo de violência que, na exploração que ele faz do voyerismo do espectador que assiste tudo mais ou menos passivamente, é amplificada. Erika é uma pessoa fria, dura, ríspida e aparentemente incapaz de demonstrar sentimentos como carinho, amor, afeto. O modo como lida com seus alunos, p

Pretensões cósmicas

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Interestelar tem sim suas qualidades. A cena em que o astronauta Cooper encontra-se dentro da projeção da 5ª dimensão, por exemplo, atrás da estante do quarto da filha, pode parecer absurda e inacreditável para leigos, mas para aqueles que entendem de Álgebra Linear sabem que a projeção de um "hipercubo" no espaço 3D seria muito próxima do retratado no filme, além do modo como o tempo se processa perto de grandes concentrações de massa, com a gravidade interferindo na sucessão cronológica, seja no passado ou no futuro. Para comprovar isso, basta verificar as equações da Relatividade Geral. Esses méritos, no entanto, não se devem à qualidade do trabalho de Nolan enquanto cineasta, mas sim à contribuição da equipe de cientistas contratada para dar um suporte "teórico" e "acadêmico" ao filme, ajudando diretor e roteiristas a terem o máximo de fidelidade com o que ciência sabe acerca desses fenômenos. Os efeitos visuais que criaram o buraco-negro, são e

Os Oito Humanos

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" Eu não conheço aquele negro. Mas eu sei que ele é negro. E isso é tudo o que eu preciso saber. " " Porque é quando os negros estão com medo que os brancos estão seguros. " " Senhores, eu sei que os americanos não estão aptos para deixar uma coisa pequena como a rendição incondicional ficar no caminho de uma boa guerra. " " Homens negros contando o meu dinheiro! Eu odeio isso. O único tipo de pessoa que quero contando meu dinheiro são pequenos caras que usam quipás todos os dias. " " Quando o México envia seu povo, eles não enviam seu melhor [...] Eles estão enviando pessoas que têm muitos problemas. Eles estão mandando problemas para nós. Eles estão trazendo drogas, crimes e estupradores, e alguns deles são boas pessoas ." " Eu vou construir um grande muro - e, acredite, ninguém constrói muros melhor do que eu - e vou fazer isso de um jeito muito barato. Eu vou construir uma grande muralha em nossa fronteira sul, e vo

Adeus, meninas!

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Segundo o levantamento feito no Censo 2010, apesar da legislação federal considerar crime a relação sexual com menores de 14 anos (mesmo consentida, a relação é classificada como "estupro consensual"), no Brasil existem cerca de 47 mil meninas com idades de 10 a 14 anos que estão casadas. Contudo, apesar dessa ser uma prática mais associada às regiões mais atrasadas em termos de acesso à informação e à serviços públicos básicos (como saúde e educação) e distantes dos centros urbanos, ela também tem acontecido nas áreas mais prósperas - e consequentemente mais desiguais - do país. De acordo com uma estimativa do Unicef baseada em dados colhidos em 2011, o Brasil ocupa o 4º lugar no ranking mundial do total de mulheres casadas antes dos 15 anos. No mundo, seriam cerca de 877 mil mulheres com idades entre 20 e 24 anos que admitiram ter se casado antes dos 15 anos. Todavia, essa projeção não inclui, por ausência de dados, países como Líbia, Omã, Catar, China, Bahrein, Irã,