Trocas Culturais e Diálogos Cinematográficos

De acordo com José Luiz dos Santos, professor de Antropologia da Unicamp, SP, ''a cultura é um produto coletivo da vida humana''. (O que é cultura?, 1994, ed. Brasiliense)

Trocas culturais são uma uma constante nas sociedades humanas. Nenhum homem é uma ilha, afinal, e a história mostra que os povos que se isolaram terminaram inevitavelmente extintos. Pensando nisso, as melhores versões de Shakespeare para o cinema - ao meu ver - foram feitas pelo cineasta Akira Kurosawa, transportando as narrativas do bardo para o contexto do Japão feudal.

Trono Manchado de Sangue (蜘蛛巣城, Kumonosu-jō, ou numa tradução literal, "Castelo Teia de Aranha", de 1957) é uma brilhante versão da peça - tida como maldita por muitos - Macbeth, que em vez de retratar a intriga entre nobres e guerreiros Escoses, se passa entre samurais japoneses do período Sengoku.

Na peça maldita, Macbeth é um nobre escoces, chefe militar respeitado, General do exército do Rei Duncan. Um dia, perdido em um nevoeiro junto com seu amigo Banquo, eles encontram 3 bruxas que lhes revelam um profecia, segunda a qual Macbeth se tornaria o rei, mas que o trono seria herdado pelo filho de Banquo. No filme de 1957, os generais Washizu Taketori e Miki, regressam aos seus domínios depois de uma batalha vitoriosa, mas acabam se perdendo no Bosque das Teias de Aranha. 


Lá, acabam encontrando um espírito de uma mulher que lhes revela uma profecia, segundo a qual Washizu se tornará o Senhor do Castelo do Norte, mas o trono seria herdado pelo filho de Miki. Em ambas as narrativas, Macbeth e Wshizu acabam sendo convencidos por suas esposas (Lady Macbeth, na peça, e Asaji, no filme) a cometer terríveis crimes para alcançar o poder.

Ran (乱, que pode ser traduzido por "rebelião", "revolta", "distúrbio" ou "confusão", de 1985), por seu turno, é uma suntuosa e deslumbrante versão da peça O Rei Lear. Se na obra shakespereana temos a história de Lear, o idoso rei da Bretanha, decide dividir o reino entre suas três filhas Goneril, Regan e a favorita Cordélia. 

Na obra de Kurosawa, a narrativa é transposta para o o Japão do século XVI, onde o senhor feudal Hidetora, patriarca do clã Ichimonji, ao completar 70 anos, decide dividir o reino entre os três filhos: Taro, Jiro e Saburo. Saburo contesta seu pai, critica seu plano, e é banido por ele.

Há ainda O Idiota (白痴, ou Hakuchi, de 1951), de é uma versão do livro O Idiota, do escritor russo Dostoiévski, ou Ralé (どん底, ou Donzoko, de 1957), baseado na peça do autor russo Máximo Gorki.

Além do fato de que a famosa animação O Rei Leão (The Lion King, de 1994), da Disney, é uma versão da peça Hamlet, de Shakespeare. 10 Coisas que Eu Odeio em Você (10 Things I Hate About You, 1999) é baseado na peça A Megera Domada, também de Shakespeare.

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