Herói Injustiçado

Alan Mathison Turing nasceu em 23 de junho de 1912, em Londres, Reino Unido. Foi um matemático, lógico, criptoanalista e cientista, considerado por muitos o "pai da computação" e pioneiro dos estudos e pesquisas sobre inteligência artificial.

De fato, teve grande influância no desenvolvimento da ciência da computação e na formalização do conceito de algoritmo, com a invenção da "máquina de Turing", batizada por ele de "Christopher", durante a Segunda Guerra Mundial, um equipamento que pode ser considerado o precursor dos computadores. Turing trabalhou para a inteligência britânica em Bletchley Park, num centro especializado em quebra de códigos. Por um tempo ele foi chefe do Hut 8, a seção responsável por analisar e decrifar o "Enigma", isto é, o sistema criptografia usada para comunicação pela frota naval da Alemanha Nazista.

No filme do diretor Morten Tyldun, a narrativa se foca no período passado durante a Segunda Guerra e na equipe de cientistas encabeçada por Turing responsável por decifrar os códigos nazistas. Na interpretação do britânico Benedict Cumberbatch, Turing é retratado em suas idiossincrazias: um gênio, capaz de resolver complexas equações matemáticas em segundos, mas com sérios problemas de relacionamento interpessoal. Por muito pouco essa caracterização consegue escapar da caricatura, evitando contruir um personagem que equivaleria à um Sheldon Cooper ou à uma mistura de Forrest Gump com Albert Einstein.

Nesse ponto, o filme se assemelha à outras cinebiografias de gênios, como Um Mente Brilhante (A Beatiful Mind, 2001), dirigido por Ron Howard, que conta a história do matemático e vencedor o Nobel, John Forbes Nash Jr., por exemplo. Contudo, o filme de Tyldun ganha pontos sobre o filme de Howard, por evitar o maniqueísmo e o sentimentalismo, e por não ocultar a homossexualidade de seu protagonista. Isso porque, em 1954, Nash foi preso por "ato indecente" em Santa Mônica, de acordo com uma lei do estado da Califórnia, nos EUA, que considerava criminoso o comportamento homossexual.

Durante décadas a homossexualidade era considerada ilegal no Reino Unido de modo que, em 1952 Turing foi preso e sofreu um processo criminal por ser homossexual. Como pena alternativa à prisão, e foi submetido à um tratamento hormonal e à castração química. O filme de Tyldun não omite esse fato, mas, ao contrário, faz dele um dos pilares da narrativa e base de algumas das cenas mais dramáricas do filme.

Na narrativa, que se alterna entre os eventos passados durante a Segunda Guerra Mundial, com outros da adolescência de Turing e sua passagem por uma escola conservadora do Reino Unido, importantes detalhes de seu passado - como a autodescoberta de sua homoafetividade - serão desvelados.

Turing morreu dois anos depois, em 1954 (ano da prisão de Nash), provavelmente por suicídio causado por autoinoculação de cianeto, em decorrência da depressão causada pelo tratamento e pelo ostracismo no qual ele caíra. Morreu praticamente anônimo, desprestigiado e esquecido, apesar de sua inequívoca a inestimável contribuição tanto para a vitória dos Aliandos contra os Nazistas durante aquele conflto, quanto para estabelecer o pilares da computação e da informática.

O JOGO DA IMITAÇÃO
(The Imitation Game, 2014)
Direção: Morten Tyldun
Elenco: Benedict Cumberbatch, Keira Knightley, Mathew Goode, Charles Dance, Mark Strong, Alex Lawther e Allan Leech.
Prêmios:
Indicado à 8 Oscar, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Ator.
Vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado.

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