Em terra estrangeira

A princípio o filme pode causar algum estranhamento na platéia, pois tudo - exceto a passagem algo cômica do mal-estar durante a viagem de navio - parece fácil demais para a jovem irlandesa Eilis Lacey que deixa sua terra em busca do "sonho americano": ela parte para os EUA já tendo a garantia de um lugar onde morar e um emprego, tudo arranjado por um padre também irlandês (Jim Broadbent) que dirige uma paróquia no Brooklyn.

O "bom-mocismo" de Eilis, que prefere trabalhar como voluntária na ceia natalina que a paróquia supracitada oferece anualmente aos mendigos, em vez de festejar na pensão onde vive com amigas da mesma idade; e o namoradinho italiano bem apessoado, educado, gentil, carinhoso e atencioso - até parece que esconde algo - contribuem para criar essa sensação.

E durante a primeira meia hora do filme esse detalhe, aliado à atuação ainda pouco convincente de Saoirse Ronan contribuem, para que o espectador desenvolva certa desconfiança para com a obra. Mas a partir daí, quando se dá o primeiro encontro entre Eilis o padre Flood é que - ao meu ver - o filme deslancha e atriz finalmente encontra-se com sua personagem e lhe injeta ânimo e vigor. E então nós, que assistimos, somos inevitavelmente cativados.


O filme segue sua narrativa, demostrando - apesar de suas qualidades - ser mais um filme sobre imigrantes tentando a vida na parte norte do Novo Mundo, tal qual em obras-primas como Terra de um Sonho Distante (America, America, de 1963) de Elia Kazan, O Poderoso Chefão - Parte II (The Godfather - ParT II, 1975), ou o recente Era uma vez em Nova York (The Immigrant, 2014) de James Gray.

Contudo, quando a protagonista decide voltar à Irlanda para visitar a mãe e comparecer ao casamento de sua melhor amiga, é que ele definitivamente mostra seu valor e se diferencia de seus pares. Os dilemas que Eilis vivencia e tem de enfrentar nesse seguimento da trama é que verdadeiramente tocarão o espectador e o farão torcer e temer pelas escolhas que ela fará.

Além da bela atuação de Saiorse (perfeitamente irlandesa e contrastando na medida certa com a expansividade do italiano Tony), merecem destaque os desempenhos de Domhnall Gleeson, Emory Cohen e Julie Walters (hilária!), a trilha sonora envolvente, bem como a preciosidade dos figurinos e da direção de arte.

BROOKLYN (Idem, 2015)
Direção: John Crowley
Elenco: Saoirse Ronan, Jim Broadbent, Domhnall Gleeson, Emory Cohen e Julie Walters.
Indicações ao Oscar: Melhor Filme, Melhor Atriz e Melhor Roteiro Adaptado
Minha nota: ★★★★★★★☆☆☆




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