Mater Dei & Curry

O filme merece ser visto por ser uma fascinante saga indiana de uma mulher para sobreviver e criar seus filhos apesar de todas as adversidades. Se, disso que eu disse, tirarmos a parte dos filhos, poderíamos facilmente dizer que minha frase se refere ao clássico Hollywoodiano E o Vento Levou... (1939).

Porém, apesar de história comovente e da atuação cheia de verdade da protagonista Nargis interpretando Radha, o filme possui defeitos muito sólidos, que acabam influindo negativamente no resultado final e prejudicando a fruição da obra. O céu cenográfico usado em algumas cenas, por exemplo, é um desses defeitos.

A atuação de Sunil Dutt como o filho Birju na idade adulta, ao meu ver, é o maior deles. O trabalho do ator é caricato, forçado, exagerado e, mesmo que se afirme que isso seja característico da dramaturgia indiana ou que o trabalho dos demais atores também o sejam, o notório o quanto o desempenho dele destoa negativamente dos demais.


Além disso, a maquiagem excessivamente vermelha (em contraste com a maquiagem mais branca usada por Rajendra Kumar, interpretando o irmão Ramu na idade adulta) usada pelo ator contribui ainda mais com o estranhamento que suas aparições causam.


A duração do filme também é um tanto excessiva, e os números musicais (que poderão soar cafonas ao público ocidental), aliado aos flashbacks, contribuem subtancialmente para esse prolongamento narrativo.

Alguns pontos da narrativa acabam, em contrapartida, ficando mal explicados, criando incômodas lacunas. A reconstrução da comunidade rural onde eles viviam, após a inundação, e a consequente formação da vila, é um desses entrechos mal explicados. Outra, é o processo que teria levado Birju a se tornar um líder de bando criminoso na parte final da narrativa.

Como o filme é uma saga épica indiana, é possível encontrar nele elementos alegóricos qie remetem à tradições hindus. A personagem de Radha, por exemplo, traz aspectos das deusas Lakshimi, Durga e Kali. Ramu, o filho mais velho, obediente, belo e educado, traz semelhanças com o deus Rama do épico Ramayana. Já Birju, o moleque travesso e desbocado que se torna um bandido romântico, com o deus Krishna, conhecido por suas transgressões. Shamu (outro nome para Krishna), marido de Radha que a abandonou, também é comparado com Krishna, que deixou sua amante.

Para aqueles que se mesmo assim se interessarem por assisti-lo e tiverem êxito em vencer suas mais de 2 horas de duração, recomendo que procurem e assistam à Trilogia Apu (A Canção da Estrada, O Invencível, O Mundo de Apu), do grande mestre do cinema indiano Satyajit Ray. Esses certamentes são filmes muitos mais sólidos e melhor realizados, contando uma saga indiana ainda mais comovente e encantadora.

MÃE ÍNDIA  (Mother India, 1957)
Data de lançamento: 14 de fevereiro de 1957 (Índia)
Direção: Mehboob Khan
Elenco: Nargis, Sunil Dutt, Rajendra Kumar e Raaj Kumar.
Música composta por: Naushad
Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro


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