Essa é pra comer. Essa é pra casar.

Enquanto assistia ao filme, procurava alguma explicação para o estranho e ousado título "A Mãe e a Puta" e confesso que ele foi um dos atrativos que me levaram a procurara o filme e assisti-lo. E essa frase tão comum no meio machista talvez ajude a entender a escolha do autor pelo nome de sua obra.

O filme narra as desventuras de Alexandre, um homem parisiense que se torna pivô de um triangulo amoroso com duas belas, complexas e fascinantes mulheres. Mas Alexandre é um anti-herói pelo qual o expectador dificilmente nutrirá simpatia ou admiração: ele é imaturo, inseguro, mentiroso, fútil, egocêntrico e mimado. "Não gosto de dignidade. Minha única dignidade é minha covardia", ele diz a certa altura do filme.

E machista: incapaz de lavar os copos que suja, quando interpelado por Maria (que praticamente o sustenta, com uma mãe solteira) se gaba de tê-los lavado um vez, há tempos atrás; admite que as parades do apartamento que divide com Maria tem marcas de sangue das brigas entre os dois e que, numa delas, machucou brutalmente o rosto da moça; além disso, flerta com moças na rua, mesmo vivendo sob o teto e às custa de Maria, que inexplicavelmente o ama apesar de tudo, mas não aceita que ela faça o mesmo. Ou seja: almeja um relacionamento aberto, mas aberto apenas às suas "escapulidas".


Um dia conhece a bela Veronika.logo após ser definitivamente rejeitado por uma ex-namorada, Gilberte, por qual ele nutre uma paixão ególatra, narcísica e quase infantil - possivelmente porque ela diz que ele foi o seu primeiro homem e nunca amou ninguém como a ele.








"- Pensei em você no banheiro. Há uma pichação: ‘Meu desejo de amar abre-se para a morte como uma janela para o pátio’. E alguém escreveu abaixo: ‘Pula, Narciso!’
- Isso te faz lembrar de mim?
- Parece contigo, não?"

Veronika é ousada e independente - principalmente no campo sexual - e isso ao mesmo tempo que o fascina e excita, ou amedronta e ameaça. Em seu machismo possessivo, uma mulher que diz "porque como vê, querido, estou apaixonada. Me apaixono sempre. Envolvo-me rapidamente com as pessoas, e as esqueço rapidamente. As pessoas não têm importância. Amo alguém durante um mês, dois, três e logo deixo de amar. Quando é bom, é bom, depois acaba" pode ser bastante assustadora.

Porém, na medida em que ele, sem controle nenhum da situação, se perde em seus sentimentos por Maria e Veronika, ele vai entrando cada vez mais em um dilema: permanecer com a mulher que o ama e que lhe é fiel (pra casar), que praticamente o sustenta (como uma mãe), mantendo-se em sua zona de conforto, ou se arrisca numa relação nova com uma mulher que diz que já trepou só por trepar com inúmeros homens e que não há mal nenhum em mulher dizer que gosta de trepar (a puta seria mesmo ''só para trepar''?), abrindo mão de seus preconceitos.

"Para mim não existem putas. Para mim, uma garota que fode com qualquer um não é uma puta. Para mim não existem putas, isso é tudo."

Com qual das duas ele terminará? - eis a questão. O amadurecimento do personagem depende dessa escolha.

A MÃE A PUTA (Le Maman et la Putain, 1973)
Direção: Jean Eustache
Elenco: Bernadette Lafont, Françoise Lebrun e Jean-Pierre Léaud.
Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes

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