Um Farol no Oeste

Um filme que narra, por meio da história de uma família, uma parte da história de uma nação. Essa curta sinopse poderia perfeitamente descrever diversos filmes, mas talvez E o vento Levou e Assim Caminha a Humanidade sejam os mais notórios. Este Cimarron, porém, surpreende pois, apesar de ser um western clássico na maior parte de sua duração, apresenta em sua trama elementos - ao meu ver - pouco comuns e bastante ousados para época.



Cimarron narra com um dos mais turbulentos e marcantes acontecimentos da história dos EUA, durante chamada ''Marcha para o Oeste'', responsável, por um lado, pela a expansão territorial estadunidense e, por outro, pela intensificação do extermínio de diversos povos indígenas. O filme começa com a corrida de 1889, quando o presidente Benjamin Harrison abriu as terras indígenas para que fossem ocupadas pelos colonos, ocupando assim as terras da região que se tornaria o estado de Oklahoma. A cena da corrida por terras levou uma semana para ser filmada, usando 5.000 figurantes, 28 cinegrafistas e ainda 27 assistentes de câmera. Vale dizer que Cimarron é baseado na obra de Edna Ferber, que também é autora de Assim Caminha a Humanidade.

Alguns o acusam levianamente de ser um filme machista, racista e preconceituoso, quando na verdade ele não é nada disso. Os indígenas não são, em momento algum do filme, retratados como selvagens sanguinários, tal como na quase totalidade dos faroestes já feitos, a exemplo de No Tempo das Diligencias. Ao contrário, são defendidos pelo protagonista Yancey Cravat em diversas cenas.

O modo como o filme retrata os negros é mais realista e fiel aos fatos do que propriamente racista, afinal naquela época, nos EUA, os negros, livres ou não, era tratados exatamente daquele modo, ou até mesmo pior. Basta nos lembrarmos de filmes como 12 Anos de Escravidão. Filmes como o superestimado E o vento Levou, são inequivocadamente mais racistas e preconceiturosos, pois retratam os escravos como seres passivos e felizes em sua condição de subserviencia.

As cenas envolvendo as meretrizes lideradas por  Dixie Lee, especialmente a do julgamento de Lee, que acaba sendo acusada de imoralidade por grupo de mulheres defensoras da ''moral de dos bons costumes'', e tem sua defesa feita também por Yancey Cravat, é um ousado momento de feminismo e ataque ao falso moralismo que impera nas sociedades humanas há tanto tempo quanto a própria prostituição. Há ainda a ''cutucada marota'' que o roteiro dá no anti-semitismo - outra característica também ainda presente na sociedade estadunidense. Basta lembrarmos do clássico A Luz é para Todos, de Elia Kazan.

Outra acusação injustamente dirigida ao filme é que o seu título não teria sentido algum. Mas apesar de no filme isso não ser colocado de modo explícito, a palavra Cimarron, além de ser um apelido de Yancey e posteriormente o nome dado ao seu filho mais velho, também é uma palavra espanhola que pode significar uma denominação dada a um animal que havia sido domesticado, mas que fugiu e se tornou selvagem, ou uma planta que cresce no campo ou na selva, sem intervenção humana, ou ainda um ''lugar turbulento''.

Os defeitos que podem ser apontados no filme são os mesmos existentes em praticamente qualquer faroeste feito nessa époco e nas décadas posteriores: a omissão do massacre dos povos inígenas durante a expansão territorial, a história sendo contatada sempre a partir do olhar do ''homem branco'', retratado como desbravador heróico. Apesar disso, Cimarron é um faroeste épico com surpreende toques de militancia pró-feminista e defesa dos direitos civis de minorias.


CIMARRON
Data de lançamento: 9 de fevereiro de 1931 (mundial)
Direção: Wesley Ruggles
Duração: 2h 11m
Elenco: Richard Dix, Irene Dunne e Estelle Taylor
Música composta por: Max Steiner
Roteiro: Howard Estabrook

Vencedor de 3 Oscar:
Melhor Filme
Melhor Direção de Arte
Melhor Roteiro Adaptado

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Rainha Virgem

Custer, o falso herói

Eu me lembro