Amar, verbo intransitivo

O filme não é uma ficção científica ao estilo Christopher Nolan (como Interestellar) na qual que tudo segue uma lógica científica e possui uma explicação. É uma espécie de parábola, um conto moral, mas em forma de ficção científica. Tudo tem um sentido metafórico, e a crítica, cheia de ironia e sarcasmo, do filme é direcionada à muitos aspectos de nossa vida. Eu destacaria 5 pontos:
1) nossa dificuldade em nos relacionar com as diferenças, nossa necessidade de nos encaixar em padrões para sermos aceitos ou de buscar pessoas que se encaixem em padrões que nós preestabelecemos;
2) essa necessidade de nos encaixar em padrões nos divide, de acordo com os padrões criados, como, por exemplo, ser solteiro, se casado,
3) os que optam por ser solteiros e os que optam por casados tendem a defender seu modo de vida, apregoa-lo como o ideal, enxergam o outro como um fracassado, alguém que não "deu certo na vida";
4) a pressão social (Durkheim chamou de Fato Social) por nos casarmos que vem desde nossa família, como a tia que pergunta "e as/os namoradinhas/os?" ou os amigos que lhe chamam de "encalhada/o";
5) muitas pessoas se casam não porque se gostam, mas porque não querem ficar sozinhas, daí o medo de não gerar descendentes,ser esquecido;



O roteiro tem o mérito de ser transgressor, ousado, não se apegara fórmulas. Que sequência brilhantemente pensada aquele em que os hóspedes do hotel dançam descontraídos no salão até que o alarma apita e eles tem que sair à caça uns dos outros. O que é esta cena senão uma metáfora das relações sociais onde, por um lado, todos se tratam bem, estão bem vestidos, elegantes, sorrindo, mas, quando a luz se apaga e a selva se abre, aqueles cidadãos civilizados dão lugar à bestas selvagens caçando-se mutuamente, fugindo, correndo, espreitando. A câmera lenta e a música clássica que embalam a cena acentuam ainda mais a contradição ali presente. O mesmo humor sutil e típico d o cinema de Yorgos se dá na cena do supermercado.

O diretor Yorgos Lanthimos quer nos fazer pensar, nos levar à reflexão, ao questionamento. Não traz respostas prontas porque não subestima nossa capacidade de chegar à ela por nossos próprios processos mentais e intelectuais. O que falta a muitos aqui são as ferramentas para realizar esses processos, acumuladas com leituras variada e profunda, de livros, de outros filmes, de relações...do mundo.

O LAGOSTA (The Lobster, 2016)
Direção: Yorgos Lanthimos
Elenco: Colin Farrell, Rachel Weisz, Ariane Labed, John C. Reilly, Léa Seyoux.

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