No peito dos desafinados também bate um coração...

O filme vale pela precisa atuação de Meryl Streep, equilibrando com perfeição humor e drama. Por causa dela, nos afeiçoamos à Florence e, se rimos nos momentos que ela tenta cantar, também nos deixamos contagiar por seu genuíno amor pela música.

Os dramas reais pela qual a verdadeira Florence Foster Jenkins (1868—1944), passou, são habilmente explorados pelo roteiro, o que faz com criemos ainda mais empatia para com a personagem. Talvez o pior deles seja ter contraído sífilis, na noite de núpcias, com seu marido, o Dr. Frank Thornton Jenkins. Quando se casaram, em 1885, ele tinha 33 anos. Ela tinha apenas 17 anos.

Quando criança Florence iniciou carreira na música como pianista, apresentando-se como “Little Miss Foster”.Chegou inclusive a dar um recital na Casa Branca durante o governo do Presidente Rutherford B. Hayes. Em consequência de sua doença, que ataca o sistema nervoso, tocar piano ficou cada vez mais difícil. Como o tratamento disponível à época incluía a ingestão de mercúrio e láudano, altamente tóxicos, os que complicou demais sua saúde, impedindo-a de seguir a carreira como pianista.



O filme conta também com uma reconstituição de época (cenários, figurinos...). Contudo, seus defeitos não podem ser negados. O pior deles é atenção exagerada que o roteiro dá a estórias e personagens paralelos. Em vez de enriquecer a trama, este recursos acaba mostrando-se enfadonho e supérfluo.

A atuação de Simon Helberg também me incomodou. Apesar de ser um ator de talento inegável, aqui ele sobrecarrega em sua atuação, do mesmo modo que o roteiro exagera na atenção que dispensa ao seu personagem. Sua constante preocupação em atuar, torna a sua atuação mecânica e pesada, desprovida de fluidez sutileza. Dá para perceber seu esforço em gesticular, em realizar expressões faciais, em tentar compor um personagem multidimensional, mas seu empenho resulta em um personagem indefinido, sem consistência, que não diz a que veio.

Sua presença no filme, como mais um alívio cômico (afinal, a protagonista em si já proporciona suficiente comicidade), acaba mostrando igualmente desnecessária. A cena em que ele ri no elevador após a primeira aula com Florence soa como se o público não fosse capaz de identificar quando a cena é cômica. É como se, para o diretor, as cenas em que Florence canta não fossem suficientemente engraçadas.

O filme é, em geral, formulaico e excessivo, e claramente feito com intenção de angariar indicações em premiações importantes. Duas cenas, em especial, são daquelas claramente pensadas para isso: aquela em que Streep, encarnando Florence, conversa com seu (2º) marido, interpretado por Hugh Grant, sobre seu sonho de cantar no Carnegie Hall; a outra, quando os dois conversam no leito de morte de Florence, no final do filme.

O diretor ultimamente parece estar dedicado a realizar filmes de baixo orçamento, contando histórias de mulheres reais, estrelados por grandes atrizes acima dos 50 anos. Foi assim com Sra. Henderson Apresenta (Mrs. Henderson presents, 2005), com Judi Dench, indicada ao Oscar; depois A Rainha (The Queen, 2006), com Helen Mirren, premiada com o Oscar de Melhor Atriz; Philomena (Idem, 2013), com Judi Dench, indicada outra vez ao Oscar, e no ano passado, este Florence, que deu a Meryl Streep mais uma indicação. Este ano ele lançou Victoria e Abdul - O Confidente da Rainha (Victora & Abdul, 2017), estrelado novamente por Judi Dench.

A minha cena favorita, contudo, vem depois que os créditos começam a descer:
"- Quer fazer outra tomada?
- Bem, não vejo por quê. Esta me pareceu perfeita."

FLORENCE - QUEM É ESSA MULHER? (Florence Foster Jenkins, 2016)
Direção: Stephen Frears
Elenco: Meryl Streep, Hugh Grant, Simon Helberg.

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