Cidadã Mangano

David O. Russell, nesse seu 9º filme faz um amálgama de 2 narrativas muito comuns no cinema hollywoodiano: primeiramente a história da mulher simples, de classe média, trabalhadora, que depois de muita luta e - em certa medida - de confrontação de uma certo sistema ou status quo, supera-se e vence na vida; em segundo lugar, a história do "self-made-man" (nesse caso, uma self-made-woman), que sozinho e contrariando todas as expectativas, constrói para si um império.

O primeiro tipo de narrativa pode ser encontrado em filmes como Norma Rae (idem, 1979) e Erin Brokovich (idem, 2001), os quais, junto de Joy, guardam mais uma semelhança: os 3 tem o nome de suas protagonistas como título. Já o segundo exemplo é visível em filmes como o clássico Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941) ou os mais recentes Sangue Negro (There will be Blood, 2007) e A Rede Social (The Social Network, 2010). Com o clássico de Orson Welles o filme tenta estabelecer um diálogo ao apresentar, numa das cenas finais, o que seria a "rosebud" da protagonista: uma caixa com seus recortes de infância.

Mas apesar de Joy ter toda essa pretensão, ele infelizmente não cumpre com o que promete e possui defeitos sólidos: a edição comete um erro crasso quando, na transição entre suas cenas a mão da protagonista aparece enfaixada, sem que haja alguma explicação, para tal; a narração em off por parte da avó resulta mais despropositada que a de Joseph Gordon Levitt em A Travessia (The Walk, 2015); a tensão sexual insinuada entre Joy e Neil Walker, que termina sem ser resolvida; a tentativa de estabelecer uma metáfora entre Joy a cigarra, que soa um tanto forçada.


A história da jovem promissora que se torna uma dona de casa divorciada e mãe de dois filhos, cujo ex-marido vive no porão da casa que ela divide com a mãe (que passa os dias na cama vendo novelas) e a avó, e que se transforma em empresária de sucesso após a invenção de um esfregão - e depois de passar por alguns percalsos - é interessante, como o modo como é contada nesse filme - além de já citada pretensão - torna-se confusa e piegas. O tom edificante que vai ganhando mais força ao aproximar-se do final do filme e com isso, ele acaba adquirindo ares de auto-ajuda barata. Mas apesar das críticas recebidas, o desempenho da atriz principal me agradou. Contudo, considero exagerada sua indicação ao Oscar de Melhor Atriz, ainda mais quando se pensa que Charlize Theron, que teve uma das melhores performances do ano, não foi indicada.

Apesar das falhas de roteiro e montagem, o filme tem no desempenho notável de seu elenco sua grande qualidade, afinal, a despeito de, no geral, ser um diretor superestimado, David O. Russell é ótimo para extrair o melhor de seus intérpretes - mesmo que, desde de O Lado Bom da Vida (Silver Linnings Playbook, 2012), eles formem uma certa "panelinha" na qual JLaw, Bradley Cooper e DeNiro são as figuras mais constantes.

JOY - O NOME DO SUCESSO (Joy, 2015)
Direção: David O. Russell 
Elenco: Jennifer Lawrence, Robert DeNiro, Bradley Cooper, Edgar Ramirez, Isabella Rossellini, Diane Ladd e Virgina Madsen.
Vencedor do Globo d Ouro de Melhor Atriz em Comédia
Indicado ao Oscar de Melhor Atriz
Minha nota: ★★★★★★☆☆☆☆

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