Pièce de Résistance

Esse não é só um ótimo filme, mas uma bela aula de história do cinema, que traz como pano de fundo uma mancha na história dos EUA e de Hollywood: o Macarthismo, ou a perseguição descabida e insana, por parte, inicialmente, de políticos conservadores, à diretores, roteiristas, atores e qualquer outra pessoa que tivesse envolvimento com o comunismo.


O filme conta com uma reconstituição de época impecável, que não se percebe apenas em cenários e figurinos, como também na escolha do elenco - afiadíssimo - composto de interpretes fisicamente muito parecidos com as figuras históricas que interpretam.

O desempenho de Cranston no papel do roterista combativo, polêmico e perseguido é irretocável e sem dúvidas o maior mérito do filme e - ao meu ver - a melhor atuação deste ano. Certamente irá perder o Oscar para Leonardo DiCaprio - cujo mérito é inequívoco, mas cuja atuação está um pouquinho abaixo desta aqui.

É comum traçar um paralelo entre a Inquisição, na Idade Média, àquela perseguição ocorrida em Hollywood no século passado. No entanto, é interessante notar o quanto a cegueira ideológica que levou àquela situação pode ser comparada ao começa a se delinear na política nacional, com os insanos seguidores e apoiadores de gente como Bolsonaro e seu irracional e radical anti-comunismo, anti-petismo, anti-feminismo, anti-LGBT, entre outros grupos aos quais eles se opõem feéricamente.

Cabe lembrar que o Macarthismo já foi abordado no cinema outras vezes, de modo bastante irregular em Um Rei em Nova York (A King in New York, 1957), um dos poucos filmes falados de Chaplin, e com maior êxito em filmes como Culpado por Suspeita (Guilty by Suspicion, 1991), de Irwin Winkler, com Robert De Niro, e Boa Noite e Boa Sorte (Good Night and Good Luck, 2005), de George Clooney, com David Strathairn.

Eis aqui uma lista dos principais personagens reais retratados no filme, seus respectivos intérpretes e uma brevíssima biografia de cada um:

Dalton Trumbo (Bryan Cranston), roteirista de filmes como A Princesa e o Plebeu (Roman Holiday, 1953) e Spartacus (Idem, 1960), duas vezes premiado com o Oscar, e diretor de Johnny vai à Guerra (Johnny got his Gunn, 1939).

Edward G. Robinson (Michael Stuhlbarg), ator que ficou conhecido especialmente por atuar em filmes Noir, como Pacto de Sangue (Double Indemnity, 1944).

Sam Wood (John Getz), diretor de filmes como Adeus Mr. Chips (Goodbye, Mr. Chips, 1939) Por quem os Sinos Dobram (For Whom the Bell Tolls, 1943).

John Wayne (David James Elliott), ator famoso por atuar em faroestes, especialmente sob a direção do grande Joh Ford, com o qual Rastros de Ódio (The Searchers, 1956).

Kirk Douglas (Dean O'Gorman), ator famoso por filmes como A Montanha dos 7 Abutres (Ace in the Hole, 1952), Assim Estava Escrito (The Bad and the Beautiful, 1952) e Spartacus (Idem, 1960).

Louis B. Mayer (Richard Portnow), produtor de cinema conhecido como um dos fundadores do famoso estúdio de Hollywood MGM (Metro-Goldwyn-Mayer).

Hedda Hopper (Helen Mirren) atriz e famosa colunista de Hollywood, conhecida por ter o poder de destruir carreiras. Aparece no filme Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, 1950) interpretando a si mesma.

Otto Preminger (Christian Berkel) diretor de filmes como O Homem do Braço de Ouro (The Man with the Golden Arm, 1955), Anatomia de um Crime (Anatomy of a Murder, 1959), Exodus (Idem, 1960).

























TRUMBO: LISTA NEGRA (Trumbo, 2015)
Direção: Jay Roach
Elenco: Bryan Cranston, Diane Lane, Helen Mirren, Elle Fanning, John Goodman e Michael Stuhlbarg.
Indicado ao Oscar, ao Globo de Ouro, ao SAG e ao BAFTA de Melhor Ator.
Minha nota:  ★★★★★★★★☆☆

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Rainha Virgem

Custer, o falso herói

Eu me lembro