Corpo Cativo, Alma Livre
As cenas que abrem e fecham o filme estabecelem estreito diálogo uma com a outra: primeiro, um antílope correndo entre os arbustos do deserto do Mali, sendo perseguido por jihadistas do Estado Islâmico em um jipe; depois, uma garota orfã, correndo pelas dunas, completamente sozinha e vulnerável. Nelas, assim como no resto filme, a amplidão da paisagem que os personagens tem ao seu dispor contrasta fortemente com a opressão à qual estão submetidos, sendo ela o grande fator a limitar seus horizontes.
O filme, assim, explicita um dos seus focos: a situação de extrema vulnerabilidade da mulher numa sociedade tribal de um país africano, que piora quando a região cai no controle de um grupo armado fanático muçulmano. O outro ponto no qual ele se foca é o quanto a vida dessas mulheres sempre está submetida aos interesses e ao controle dos homens - com ou sem a entrada do EI (ou ISIS) na região.
Mas, apesar do filme se focar nessa desigualdade relativa ao sexo, aos papeís de gênero e à opressão das mulheres por homens numa sociedade machista e patriarcalista, ele também toca outros pontos importantes: a intolerancia religiosa, nesse caso, do fundamentalista Islâmico com as outras crenças tradicionais africanas, que é mostrada numa das cenas iniciais, em que imagens de divindades africanas são metralhadas pelos jihadistas; e o conflito entre as diferentes interpretações dos preceitos próprio Islã, mostrada nas cenas em que um líder religioso local tanta argumentar com o líder dos jihadistas.
Num desses diálogos, ele diz: "Não me importo com a jihad dos outros Eu faço a jihad em mim mesmo. Não tenho tempo para a jihad dos outros. Se eu não estivesse tão envolvido com meu aperfeiçoamento moral, seria o primeio a segui-lo. Oro a Deus todo-poderoso na esperança de que ele perdoe a mim e a você. Que nos ajude a afastarmo-nos da vaidade e do orgulho. Pare. Você prejudica o Islã e os muçulmanos. Você coloca crianças em perigo diante de suas próprias mães."
Jihad é um conceito islâmico que significa "guerra santa", mas que tem sido interpretada de diferentes modos, pelos mais radicais e pelos mais moderados/tolerantes dentro do Islamismo. O filme é brilhante ao mostrar esse embate de visões não apenas de mundo, mas de visões opostas sobre Deus, fé e o papel que cada um tem no mundo e em relação aos demais e à sua fé e com seu Deus. Em consequencia, o quanto essas diferentes visões influenciam a vida de uma comunidade (especialmente das mulheres), quando assumidas por aqueles que detém o poder (geralmente os homens).
TIMBUKTU (Idem, 2014)
Direção: Abderrahmane Sissako
Elenco: Ibrahim Ahmed dit Pino, Abel Jafri, Fatoumata Diawara e Toulou Kiki.
Vencedor de 7 prêmios no César, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor.
Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Minha nota: ★★★★★★★★★☆
"A mulher é o negro do mundo. A mulher é a escrava dos escravos. Se ela tenta ser livre, tu dizes que ela não te ama. Se ela pensa, tu dizes que ela quer ser homem." (John Lennon)

Mas, apesar do filme se focar nessa desigualdade relativa ao sexo, aos papeís de gênero e à opressão das mulheres por homens numa sociedade machista e patriarcalista, ele também toca outros pontos importantes: a intolerancia religiosa, nesse caso, do fundamentalista Islâmico com as outras crenças tradicionais africanas, que é mostrada numa das cenas iniciais, em que imagens de divindades africanas são metralhadas pelos jihadistas; e o conflito entre as diferentes interpretações dos preceitos próprio Islã, mostrada nas cenas em que um líder religioso local tanta argumentar com o líder dos jihadistas.
Num desses diálogos, ele diz: "Não me importo com a jihad dos outros Eu faço a jihad em mim mesmo. Não tenho tempo para a jihad dos outros. Se eu não estivesse tão envolvido com meu aperfeiçoamento moral, seria o primeio a segui-lo. Oro a Deus todo-poderoso na esperança de que ele perdoe a mim e a você. Que nos ajude a afastarmo-nos da vaidade e do orgulho. Pare. Você prejudica o Islã e os muçulmanos. Você coloca crianças em perigo diante de suas próprias mães."
"A verdadeira liberdade é um ato puramente interior, como a verdadeira solidão: devemos aprender a sentir-nos livres até num cárcere, e a estar sozinhos até no meio da multidão." (Massimo Bontempelli)
Jihad é um conceito islâmico que significa "guerra santa", mas que tem sido interpretada de diferentes modos, pelos mais radicais e pelos mais moderados/tolerantes dentro do Islamismo. O filme é brilhante ao mostrar esse embate de visões não apenas de mundo, mas de visões opostas sobre Deus, fé e o papel que cada um tem no mundo e em relação aos demais e à sua fé e com seu Deus. Em consequencia, o quanto essas diferentes visões influenciam a vida de uma comunidade (especialmente das mulheres), quando assumidas por aqueles que detém o poder (geralmente os homens).
"Um homem que está livre da religião tem uma oportunidade melhor de viver uma vida mais normal e completa." (Sigmund Freud)Além das questões políticas, ideológicas e filosóficas, o filme tem méritos sólidos no que tange à sua estética cinematográfica. Algumas cenas são de uma pungência e beleza incomuns: os garotos jogam futebol sem bola, a mulher que é condenada à 40 chibatadas porque foi flagrada cantando, a mulher que se recusa a vestir o chador e desfila com suas roupas coloridas e laços nos cabelos, rindo e desafiando os jihadistas.
Ambas a situações decorrentes da imposição da lei islâmica, a Sharia, àquela comunidade. Todavia, todas são cenas que expressam a coragem humana de enfrantar obstáculos, proibições e tabus e capturam com maestria a beleza a poesia desses atos heróicos de pessoas comuns e anônimas.
"O homem é uma prisão em que a alma permanece livre." (Victor Hugo)
"Sonha e serás livre de espírito... luta e serás livre na vida." (Che Guevara)
TIMBUKTU (Idem, 2014)
Direção: Abderrahmane Sissako
Elenco: Ibrahim Ahmed dit Pino, Abel Jafri, Fatoumata Diawara e Toulou Kiki.
Vencedor de 7 prêmios no César, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor.
Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Minha nota: ★★★★★★★★★☆
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