Brain Damage

Esse filme, pelo qual Will Smith injustamente não foi indicado ao Oscar de Melhor Ator (sua atuação é muito superior à caricatura vergonhosa feita por Eddie Redmayne em A Garota Dinamarquesa) é uma história fascinante, que, para aqueles que acreditam em ilusões como o "sonho americano", a "terra das oportunidades" ou "maior democracia do mundo", pode ser surpreendente.

O filme coloca em relevo alguns graves problemas dos EUA, por meio da história real do médico nigeriano que migrou para aquele país e que, trabalhando como perito forense, acaba descobrindo algo que compromete a credibilidade do principal esporte do país. Quem assistiu a documentários como Comida S.A. (Food Inc., 2009), Capitalismo: uma história de amor (Capitalism: A Love Story, 2009) e SOS Saúde (Sicko, 2007), ou filmes como Obrigado por Fumar (Thanks to Smoke, 2006), entende como o poder das corporações é gigante naquele país, exercendo enorme influência sobre políticos e agências governamentais.

O filme, contudo, segue uma fórmula que funciona: a dos filmes sobre o homem (ou a mulher) simples que desafia o sistema, é perseguido, oprimido, mas não desiste e no final acaba vencendo. É o caso de filmes sobre temas tão díspares com Norma Rae (Idem, 1979) sobre a formação de sindicatos nos EUA; ou Silkwood - O Retrato de uma Coragem (Silkwood, 1983), sobre as negligência na segurança em usinas nucleares nos EUA; Erin Brokovich (Idem, 2000), sobre a contaminação de reservas subterrâneas de água por indústrias químicas nos EUA; ou Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club, 2013), que desvenda a corrupção nas indústria farmacêuticas nos EUA.

Em todos o filmes citados, os protagonista se verão envolvidos em uma luta contra grandes corporações para as quais o lucro está acima de tudo. O diferencial deste aqui é situar-se num universo que o cinema poucas vezes frequentou: do futebol americano. Quando o fez, no entanto, foi para exalta-lo, como em Campo dos Sonhos (Field of Dreams, 1989), e não para explicitar suas falhas e defeitos. E é isso que torna filme interessante e pertinente, mesmo para quem não é estadunidense e não faz a mínina ideia de como funciona esse esporte tão brutal e violento.

A direção, por parte do pouco conhecido Peter Landesman é segura, apesar do roteiro vacilante, que carece de um pouco mais de foco, mas que contém a medida certa de drama, tensão e peca um pouco, no final, pelo sentimentalismo, quando Dr. Omalu (Will Smith) vê entre a plateia que o assiste alguns dos jogadores mortos que foram autopsiados por ele - nisso, acaba trazendo uma semlhança com aquelas novelas recheadas de espiritismo da rede Globo.

O filme ainda toca numa questão muito pertinente, que é o modo como a cultura dos EUA glorifica e transforma certas pessoas (atletas, músicos, militares, governantes...) em heróis nacionais para depois esquecê-los e lançá-los no ostracismo. Essa realidade já foi abordada em filmes como A Conquista da Honra (Flags of our Fathers, 2006), de Clint Eastwood e Coração Louco (Crazy Heart, 2009), por exemplo.

Acertadamente, o filme evita incorrer, durante sua narrativa, em pieguice e sentimentalismo barato - como é o caso de Sete Vidas (Seven Pounds, 2008) outro filme com Will Smith - muito embora, ele corra esse risco em quase todas as cenas em que retrata a vida familiar do protagonista (na qual o filme se detém mais do que deveria). Porém, apesar desses problemas, o filme termina de modo relativamente sóbrio, encerrando satisfatoriamente as questões levantadas.

UM HOMEM ENTRE GIGANTES (Concussion, 2015)
Direção: Peter Landesman
Elenco: Will Smith, Alec Baldwin, Gugu Mbatha-Raw, David Morse e Albert Brooks.
Indicado ao Globo de Ouro de Melhor Ator me Filme Dramático.
Minha nota: ★★★★★★★☆☆☆

* O título do exto é uma referência à canção homônima da banda Pink Floyd, no álbum Dark Side of the Moon.

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